4.9.12

Aparências

No prefácio à antologia Poetas sem Qualidades, Manuel de Freitas desmarcou-se dos ourives de bairro da poesia portuguesa e o gesto foi tão significativo que passado não sei quantos anos a questão ainda dá que falar. Em Deitar a Língua de Fora, segundo deduzo da crítica de António Guerreiro, pretende-se uma linguagem verdadeira, consciente do que a rodeia; uma linguagem que desafie, portanto, quem procura apenas o estilo e a aparência, deixando a realidade de fora. Eu concordo com isto e, de facto, não me ocorre nada mais irritante do que um poema magnificamente cinzelado, que depois não diz nada. Mas é uma opção do poeta e o máximo que pode acontecer é o leitor não se interessar.

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