21.2.12


18.2.12

A preto e branco

Acordo e está uma garrafa meia cheia
de bourbon em cima da mesa, uns fósforos,
um maço de Wiston onde alguém
esgaravatou o seu número de telefone; são já sete
e cinco da manhã, James Mason contempla-me
a preto e branco desde a televisão, e vocaliza
palavras que não logro entender nem ouvir sequer.

E depois de me levantar e de me decidir
a um banho, e deixar o asco e as entranhas
pelos canos, e tirá-lo da corrente, ocorre-me
que é agradável estar vivo e fazer a guerra
e o amor e este poema, e que o mundo
bem merece
outra oportunidade.

Roger Wolfe,
Días Perdidos en los Transportes Públicos
copiado daqui

13.2.12

De vita beata

En un viejo país ineficiente,
algo así como España entre dos guerras
civiles, en un pueblo junto al mar,
poseer una casa y pouca hacienda
y memoria ninguna. No leer,
no sufrir, no escribir, no pagar cuentas,
y vivir como un noble arruinado
entre las ruinas de mi inteligencia.

Jaime Gil de Biedma
Antología Poética (de Poemas póstumos)
Alianza editorial

9.2.12

Reis

está para chegar o inverno
desbotam as cores de estio no teu sorriso
são martinho atravessa a Rua da Palma
e a avó reza a santa bárbara

eu mordo o lábio quando tocam os sinos
no jardim zoológico abrigam-se os leões
passa a última fanfarra à nossa porta
chegou o tempo de jogar ao prego

virá o discurso do patriarca
e o radiador entre os pés e a televisão
o gato dorme ao nosso colo
vamos pôr os músicos sobre o musgo do presépio

depois chegam os Reis (é um dia sempre triste)
e sob a chuva de domingo a alma passeia
envergando o seu fato branco de janeiro

Alexandre Sarrazola
Thaumatrope
Averno, 2007

4.2.12