2.7.12

Bola de resina

«Nejma acocorou-se sobre a esteira junto do pai, ajeitou a boneca contra a anca e pôs-se a confeccionar um cigarro de haxixe destinado ao visitante. Com os seus delgados dedos de menina, desfez em migalhas a bola de resina, minúsculos fragmentos que ela misturou com tabaco; depois, com o indicador, comprimiu a amálgama numa folha de cigarro. Com o rosto sorridente virado para Samantar, humedeceu com a língua o rebordo da folha e enrolou-a com a destreza de um prestidigitador. Depois, levantou-se de um salto e estendeu  ao jovem o cigarro impecavelmente enrolado, pousado na palma da mão como num guarda-jóias. Samantar pegou no cigarro e agradeceu-lhe beijando-a na testa. Era a criança de uma mulher que Hicham desposara na sua primeira juventude e que havia morrido algum tempo após o nascimento da menina. Hicham responsabilizara-se por ela. Entre as domésticas indispensáveis à vida quotidiana, tinha-lhe ensinado a confeccionar cigarros de haxixe e ela tornara-se uma especialista na matéria. Todos os convidados de Hicham louvavam a sua gentileza e admiravam o seu virtuosismo num domínio onde as mulheres não tinham ainda adquirido qualquer mérito.»

Albert Cossery
Uma Ambição no Deserto
Antígona, 2002
tradução de Sarah Adamopoulos

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