tag:blogger.com,1999:blog-20187190477107894462024-03-05T04:30:03.283+00:00Breve desplantejshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.comBlogger45125tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-87696486886347842762014-12-29T00:30:00.000+00:002014-12-29T00:30:00.591+00:00A própria arte<div style="text-align: justify;">
«Para mim, a literatura não pode ser o moço de fretes de uma história. Não pode servir só como veículo. Em tempos, o texto era apenas um acessório de memória. Já não é assim. O meio tornou-se a própria arte. A história é um combustível barato que leva o livro para a frente, mas eu prefiro o que está para lá da história, ou seja, o trabalho de escrita, a linguagem.»</div>
<br /><br />
<strong>António Gregório</strong><br />
<em>Expresso | Atual | 39</em>jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-73475496098729398472013-06-01T20:12:00.001+01:002013-06-01T20:12:29.735+01:00Inexhaustible<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">“I was within and without. Simultaneously enchanted and repelled by the inexhaustible variety of life.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<strong>F. Scott Fitzgerald</strong></div>
<div style="text-align: justify;">
<em>The Great Gatsby</em></div>
jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-10179927211157359312013-04-06T18:03:00.000+01:002013-04-06T18:03:00.613+01:00Frank O'Hara<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/YDLwivcpFe8" width="420"></iframe><br /></div>
jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-76454916204531605312012-12-29T14:35:00.001+00:002012-12-29T14:35:47.232+00:00«Viemos de uma <i>adolescência inquieta</i><br />
<i>e deslocada</i>, hoje já somos de fins de tardes<br />
e cantigas populares, dos trocos para a cerveja,<br />
das pequenas desobediências e desse verso<br />
malcriado, deitando a língua de fora<br />
à filinha dos beatos, os da lírica, sempre<br />
tão chatos.»<br />
<br />
<b>Diogo Vaz Pinto</b><br />
<i>Nervo</i><br />
Averno, 2011jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-17839633237764130352012-12-29T14:23:00.001+00:002012-12-29T14:23:11.050+00:00«A noite é sustentada pelos seus enfeites<br />
como um homem morto ligado às máquinas.»<br />
<br />
<b>Rui Pires Cabral</b><br />
<i>Praças e Quintais</i><br />
Averno, 2003 jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-38886933349452695942012-12-27T17:36:00.002+00:002012-12-27T17:36:37.847+00:00Existência a coisas que não existem<div style="text-align: justify;">
«Seja como for, o governo não me preocupada nada e a minha vontade é pensar nele o menos possível. Passei pouquíssimos momentos da minha vida sob a alçada do governo. Se um homem é livre, quando pensa, quando imagina, quando fantasia, dando existência a coisas que não existem, não há governante, não há reformador que possa colocar-lhe travões.»</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b>Henry David Thoreau</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>A Desobediência Civil</i></div>
<div style="text-align: justify;">
Antígona, 2012</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: xx-small;">tradução de Manuel João Gomes</span></div>
jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-23728086670313743312012-12-27T17:34:00.000+00:002012-12-27T17:34:24.712+00:00Carne, sangue e ossos<div style="text-align: justify;">
«Há seis anos que não pago o imposto de voto. Por causa disso, fui preso uma vez, passei uma noite na cadeia. E, ao mesmo tempo que olhava para as paredes de pedra sólida, com dois ou três pés de espessura, para a porta de madeira e ferro com um pé de espessura e para as grades de ferro que me impediam de ver a luz, não pude deixar de me espantar com a parvoíce de uma instituição que me tratava como se eu fosse apenas um montão de carne, sangue e ossos que importava manter bem fechados. Compreendi que ela tinha finalmente chegado à conclusão de que não me podia dar melhor uso e que nunca tinha pensado em aproveitar de outra forma os meus serviços. Percebi que, se era assim grande o muro de pedra que se erguia entre mim e os meus concidadãos, seria difícil ultrapassá-lo ou derrubá-lo, e jamais eles se sentiriam tão livres como eu. Nem por um só momento me senti confinado e as paredes afiguravam-se-me apenas um grande esbanjamento de pedra e argamassa. Sentia-me como se, de todos os meus concidadãos, fosse eu o único a ter pago o imposto. Eles não sabiam como haviam de lidar comigo e comportavam-se como se não tivessem recebido educação. Em cada ameaça ou saudação que me dirigiam havia um grande equívoco; porque estavam convencidos que o meu maior desejo era estar do lado de fora daquele muro de pedra. Eu limitava-me a sorrir diante das cautelas com que eles trancavam a porta sobre as minhas meditações, que afinal os seguiam sem demora e sem acharem obstáculo; elas eram de facto perigosas. Não me podendo atingir a mim, eles castigavam o meu corpo; como os garotos que, incapazes de tocar numa pessoa de quem não gostam, se vingam no cão dessa pessoa. Vi que o Estado era um deficiente mental, receoso como uma mulher que vive sozinha com as suas pratas, incapaz de fazer a distinção entre amigos e adversários. Perdi então o pouco respeito que lhe guardava e passei a ter pena dele.»</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Henry David Thoreau</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>A Desobediência Civil</i></div>
<div style="text-align: justify;">
Antígona, 2012</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: xx-small;">tradução de Manuel João Gomes</span></div>
jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-89749638153090527152012-12-25T19:38:00.002+00:002012-12-25T19:41:24.153+00:00Comportamento<div style="text-align: justify;">
«Qual deve ser o comportamento dum homem face ao actual governo americano? Respondo que associar-se a ele é cair na desonra. Nem por um só momento penso reconhecer como governo meu uma organização que é igualmente governo de escravos.»</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Henry David Thoreau</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>A Desobediência Civil</i></div>
<div style="text-align: justify;">
Antígona, 2012</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: xx-small;">tradução de Manuel João Gomes</span></div>
jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-76007348747084831662012-12-13T20:34:00.002+00:002012-12-13T20:35:31.718+00:00Escritório<div style="text-align: justify;">
«Além disso, deveis caminhar como um camelo, tido pelo único animal capaz de ruminar e caminhar simultaneamente. Quando um certo viajante pediu à criada de Wordsworth que o levasse até ao escritório do seu amo, ela retrucou: "A biblioteca é aqui, mas o escritório é ao ar livre."»</div>
<br />
<b>Henry David Thoreau</b><br />
<i>Caminhada</i><br />
Antígona, 2012<br />
<span style="font-size: x-small;">tradução Maria Afonso</span>jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-3560941798754543582012-12-13T15:04:00.000+00:002012-12-13T15:04:11.004+00:00Homens livres<div style="text-align: justify;">
«É verdade que hoje em dia somos apenas fracos cruzados, e que a esta fraqueza nem os passeantes escapam, pois não se comprometem com proezas intermináveis e que exigem perseverança. As nossas expedições não passam de breves viagens que terminam ao fim da tarde junto à lareira que nos viu partir. Metade da caminhada não passa de um refazer do percurso. Até na caminhada mais curta devíamos partir talvez motivados pelo espírito da eterna aventura, sem retorno à vista, preparados para enviar para os nossos reinos desolados somente os corações embalsamados, quais relíquias Se estais disposto a abandonar pais e mães, irmãos e irmãs, mulheres, filhos e amigos, e não tornar a vê-los; se haveis saldado as vossas dívidas, feito o vosso testamento e resolvido todos os vossos assuntos, e se sois homens livres, estais então preparados para uma caminhada.»</div>
<br />
<b>Henry David Thoreau</b><br />
<i>Caminhada</i><br />
Antígona, 2012<br />
<span style="font-size: x-small;">tradução Maria Afonso</span>jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-3995031384483448502012-12-09T18:35:00.001+00:002012-12-09T18:37:08.520+00:00Ecletismo<div style="text-align: justify;">
«A mais importante corrente deste momento é, indubitavelmente, a supressão de escolas e correntes. Nos jovens poetas, observamos uma preferência pela fragmentação, liberdade de escolha, ecletismo. A luta de escolas é coisa a que ninguém já liga, enquanto se abrem as portas à violência das ruas.»</div>
<br />
<b>Gerrit Komrij</b><br />
Introdução a <i>Uma Migalha na Saia do Universo</i><br />
Assírio & Alvim, 1996 <b><br /></b>jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-817673973835863152012-12-04T03:16:00.000+00:002012-12-06T01:55:25.802+00:00Sem preparação<div style="text-align: justify;">
«É melhor ficar com Tereza ou ficar sozinho?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Não há forma nenhuma de se verificar qual das decisões é melhor porque não há comparação possível. Tudo se vive imediatamente pela primeira vez sem preparação. Como se um actor entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que vale a vida se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É o que faz com que a vida pareça sempre um esquisso. Mas nem mesmo «esquisso» é a palavra certa, porque um esquisso é sempre o esboço de alguma coisa, a preparação de um quadro, enquanto que o esquisso que a nossa vida é, não é esquisso de nada, é um esboço sem quadro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Tomas repete em silêncio o provérbio alemão, <i>einmal ist keinmal</i>, uma vez não conta, uma vez é nunca. Não poder viver senão uma vida é pura e simplesmente como não viver.»</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Milan Kundera</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>A insustentável leveza do ser</i></div>
<div style="text-align: justify;">
Publicações Dom Quixote</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: xx-small;">tradução de Joana Varela</span></div>
jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-23495531417237858812012-11-03T23:05:00.000+00:002012-11-03T23:07:46.522+00:00At Galway RacesThere where the course is,<br />
Delight makes all of the one mind,<br />
The riders upon the galloping horses,<br />
The crowd that closes in behind:<br />
We, too, had good attendance once,<br />
Hearers and hearteners of the work;<br />
Aye, horsemen for companions,<br />
Before the merchant and the clerk<br />
Breathed on the world with timid breath.<br />
Sing on: somewhere at some new moon,<br />
We'll learn that sleeping is not death,<br />
Hearing the whole earth change its tune,<br />
Its flesh being wild, and it again<br />
Crying aloud as the racecourse is,<br />
And we find hearteners among men<br />
That ride upon horses.<br />
<br />
<b>W. B. Yeats</b><br />
<i>Poems selected by Seamus Heaney </i><br />
Faber and Faber, 2000jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-28926723817110693882012-11-01T22:15:00.000+00:002012-11-01T22:17:53.698+00:00The whole man<div style="text-align: justify;">
«True poetry, Yeats would declare, had to be the speech of the whole man. It was not sufficient that it be the artful expression of daylight opinion and conviction; it had to emerge from a more profound consciousness and be, in the words of his friend Arthur Symons, the voice of 'the mistery which lies about us, out of which we have come and into which we shall return'»</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Seamus Heaney</b><br />
<i>W. B. Yeats</i>, poems selected by Seamus Heaney<br />
Faber and Faber<b>,</b> 2000<b><br /></b></div>
jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-357712184605837852012-10-29T16:33:00.000+00:002012-10-29T16:34:49.329+00:00«Nunca percebi o<br />
silêncio obstinado das<br />
praias da marginal<br />
pelas noites de inverno, a<br />
indiferença das coisas em que<br />
um dia fomos grandes.»<br />
<br />
<b>Frederico Pedreira</b><br />
<i>Quinteto</i><br />
Artefacto, 2012 <b><br /></b>jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-68448298741874641492012-10-08T01:39:00.000+01:002012-10-08T01:39:43.502+01:00Dos dias e das palavras<div style="text-align: justify;">
«Num mundo como aquele em que vivemos, a poesia é, quase fatalmente,
uma forma de resistência. Resistência à hegemonia de outros géneros
literários ou (sub)produtos culturais, que a remete para uma quase
invisibilidade, mas também resistência à massificação, ao espectáculo
pseudo-cultural e à degradação quotidiana do verbo.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
A poesia, como toda a arte, é ainda uma forma de resistência à morte, à monotonia, à insipidez dos dias e das palavras.»</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<b>Manuel de Freitas</b></div>
<div style="text-align: justify;">
copiado <a href="http://www.lyracompoetics.org/pt/poesia-e-resistencia/" target="_blank">daqui</a> </div>
jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-82896520661280746002012-09-25T00:58:00.000+01:002012-09-25T01:00:26.077+01:00Tão caricata<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
«Na
melhor poesia, como na melhor literatura em geral, existe sempre uma
intenção, explícita ou não, de resistência. A quê? À fealdade, à mentira
e à estupidificação promovidas pelos oligopólios de comunicação social.</div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
</div>
<div style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br />
Nesse
desiderato, um poeta não pode deixar de declarar guerra a todo o género
de clichés: verbais, desde logo, mas também políticos, filosóficos,
psicológicos, etc. Mas sem nunca perder de vista que, numa era de
comunicação de massas, essa sua guerra é tão desigual, e portanto tão
caricata, como a guerra que uma sardinha (zangada) decidisse mover a um
petroleiro (de aço).»<br />
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>José Miguel Silva</b></div>
<div style="text-align: justify;">
copiado <a href="http://www.lyracompoetics.org/pt/poesia-e-resistencia/" target="_blank">daqui</a> </div>
jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-56180817742182018762012-09-23T11:54:00.001+01:002012-09-23T11:54:28.680+01:00Ficar perto<div style="text-align: justify;">
«O que sempre procuro na poesia: uma espécie de beleza arrepiante, desarmada, de efeito emocional e epidérmico semelhante ao da música. Não tenho outro critério para avaliar a poesia: aquela que me convém tem de ficar perto do coração e dos sentidos.»</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Rui Pires Cabral</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Relâmpago</i>, nº12</div>
jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-91525680825501222412012-09-07T22:42:00.003+01:002012-09-08T10:02:58.828+01:00Arte<div style="text-align: justify;">
É natural que num meio pequeno certas relações existam e se tornem explícitas. Existem consequências, claro, e um escritor deve estar preparado para que os seus textos sejam avaliados sem que se separe a arte da vida. Por vezes, no entanto, dá-se mais atenção à vida do que à arte. Custa-me ver a arte esquecida, mas não me oponho a ninguém, apenas encontro mais interesse nas combinações pessoais. E na minha própria combinação a arte é determinante.</div>
jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-59035062202041525282012-09-04T23:09:00.001+01:002012-09-04T23:10:14.051+01:00Atenção<div style="text-align: justify;">
Aqueles que apontam o dedo e estendem a língua de fora escrevem conscientes do tempo e do mundo onde se inserem. Mas ao acusarem o vício de quem escreve uma poesia demasiado centrada na forma, acabam muitas vezes por desvalorizar a própria forma. E se é verdade que cada poeta deve assumir o seu papel e escrever como bem lhe entender, num tempo onde escolas poéticas já não fazem sentido, também me parece verdadeiro que a melhor poesia é aquela que junta conteúdo e forma em perfeita harmonia. Ou seja, em vez de se escrever contra a própria escrita, acho que chegou o tempo de dar mais atenção ao poema. Para que se deixe de gastar a mesma tecla e se possa dar um passo em frente.</div>
jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-39469682762603803822012-09-04T21:03:00.000+01:002012-09-04T22:28:18.388+01:00Aparências<div style="text-align: justify;">
No prefácio à antologia <i>Poetas sem Qualidades</i>, Manuel de Freitas desmarcou-se dos ourives de bairro da poesia portuguesa e o gesto foi tão significativo que passado não sei quantos anos a questão ainda dá que falar. Em <i>Deitar a Língua de Fora</i>, segundo deduzo da crítica de António Guerreiro, pretende-se uma linguagem verdadeira, consciente do que a rodeia; uma linguagem que desafie, portanto, quem procura apenas o estilo e a aparência, deixando a realidade de fora. Eu concordo com isto e, de facto, não me ocorre nada mais irritante do que um poema magnificamente cinzelado, que depois não diz nada. Mas é uma opção do poeta e o máximo que pode acontecer é o leitor não se interessar.</div>
jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-45137889444563771582012-09-02T11:40:00.001+01:002012-09-04T20:24:50.565+01:00Língua de fora<div style="text-align: justify;">
Na crítica de António Guerreiro a <i>Deitar a língua de fora</i>, da editora Língua Morta, não há uma palavra sequer sobre a qualidade dos poemas que compõem o volume. O crítico do Expresso escreve sobre os critérios de organização, a escolha do título e a dimensão geral do livro - uma dimensão ética e política que procura frases verdadeiras, refutando um lirismo vago que não interroga o seu tempo. A mesma tecla, basicamente, dos poetas sem qualidades, mas com um tom ainda mais desafiante e quase rancoroso. A dada altura diz que há 29 poemas de 10 autores, mas acerca da qualidade dos respectivos poemas não há uma palavra. Era principalmente isso que me podia interessar na crítica, mas ou António Guerreiro se esqueceu de falar dos poemas ou não o achou essencial. </div>
jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-41426283564792814802012-08-21T12:42:00.000+01:002012-08-21T12:42:56.147+01:00Capital do vício<div style="text-align: justify;">
«-Faz parte dos deveres da polícia importunar-me quando esta cidade é uma descarada capital do vício do mundo civilizado? - berrou Ignatius para a multidão que se apinhava em frente do armazém. - Esta cidade é famosa pelos seus jogadores, prostitutas, exibicionistas, anticristos, alcoólicos, sodomitas, drogados, fetichistas, onanistas, escritores pornográficos, vigaristas, vadios, porcos e lésbicas, todos eles muito bem protegidos pela corrupção. Se tiver tempo, posso discutir consigo o problema do crime, mas não caia na asneira de me incomodar.»</div>
<br />
<b>John Kennedy Toole</b><i> </i><br />
<i>Uma Conspiração de Estúpidos</i><br />
Biblioteca Sábado<br />
<span style="font-size: x-small;">tradução de Maria Filomena Duarte</span> jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-13150692767878601982012-07-26T17:27:00.000+01:002012-07-26T17:27:24.659+01:00Demasiado idiotas<div style="text-align: justify;">
«Esses atentados são sem dúvida infantilidades, tenho quase a certeza disso. Mas esqueces aqueles que nos observam para além da fronteira e que são demasiado idiotas para compreenderem que se trata de uma fraude. Têm todo o apoio da grande potência imperialista que não hesitará em invadir-nos para reprimir aquilo que eles julgam ser uma revolução. Esses filhos da mãe trarão com eles tudo o que detesto: a ordem, o trabalho e o dinheiro. Este lugar ideal será poluído para sempre. Vivemos no canto mais civilizado da terra porque não possuímos nada. Podemos viver tão livremente como os pássaros no céu; o governo nem dá por isso: é tão pobre que não tem sequer os meios para se preocupar com a vida dos cidadãos. Isso exigir-lhe-ia um esforço material incompatível com as suas finanças. Podes atravessar a rua no ponto que quiseres, não há passagens para peões. Mas se por azar essa raça de predadores vier pôr ordem aqui, sob o pretexto da revolução, essa liberdade perder-se-á para sempre. São capazes de instaurar passagens para peões no deserto. Será a escravatura debaixo do reinado do dinheiro.»</div>
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<b>Albert Cossery</b></div>
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<i>Uma Ambição no Deserto</i></div>
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Antígona, 2002</div>
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<span style="font-size: x-small;">tradução de Sarah Adamopoulos</span></div>jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2018719047710789446.post-19256586333024867242012-07-26T17:21:00.002+01:002012-07-26T17:22:14.098+01:00Aves de rapina<div style="text-align: justify;">
«Samantar estava convencido de que a pobreza de um país era a sua única salvaguarda contra as aves de rapina, armadas ou não, que esperavam apenas a promessa de lucro para partir à sua conquista, para o esquartejar, para o minar; e agradecia aos céus ter nascido numa terra desértica, desmunida de quaisquer matérias primas raríssimas e suficientemente repelente para desencorajar as almas mercantis.»</div>
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<b>Albert Cossery</b></div>
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<i>Uma Ambição no Deserto</i></div>
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Antígona, 2002</div>
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<span style="font-size: x-small;">tradução de Sarah Adamopoulos</span></div>jshttp://www.blogger.com/profile/06669139684679508602noreply@blogger.com0